Amo demais, sem saber que estou amando,
As moças a caminho da reza.
Entardecer.
Elas também não se sabem amadas
pelo menino de olhos baixos mas atentos.
Olho uma, olho outra, sinto
O sinal silencioso de alguma coisa
Que não sei definir - mais tarde saberei.
Não por Hermínia apenas, ou Marieta
Ou Dulce ou Nazaré ou Carmen.
Todas me ferem - doce,
Passam sem reparar. O lusco-fusco
Já decompöe os vultos, eu mesmo
Sou uma sombra na janela do sobrado.
Que fazer deste sentimento
Que nem posso chamar de sentimento?
Estou me preparando para sofrer
Assim como os rapazes estudam para médico ou advogado.
(Carlos Drummond de Andrade, Boitempo)