- Como é que se vai atravessar isto? perguntou Clementina, sem se atrever a pisar naquela ponte rústica.
- Vou auxiliá-las, propus. Feche os olhos se tem vertigem.
   Equilibrando-me, segurei as mãos da moça e, andando de costas, cheguei à outra margem. Depois conduzi Luísa. No meio da prancha, com os braços abertos e as mãos nas mãos dela, como se fosse abraçá-la, hesitei, e foi ela que me amparou. Pareceu-me que a minha vida era estreita e oscilante, com perigo de um lado, perigo do outro lado, e Luísa junto de mim, a proteger-me. Comprimi-lhe os dedos, toda a minha alma fulgiu para ela num olhar de ternura.

(Graciliano Ramos in: Caetés)